NEBLINA
A série NEBLINA de Sonia Wysard, inaugura uma pesquisa da pintora com a gravura, onde o suporte em papel, os desenhos feitos a partir das marcas dos instrumentos de pintura – trinchas, pincéis, rodos – e a operação de gravura em monotipia, buscam novas possibilidades para o deslocamento conceitual do corpo no espaço bidimensional.
Em diálogo com os trabalhos da série MERGULHO; porém entrando numa escala mais intimista, delicada e reduzida, e assim mais cerebral que o confronto corpóreo direto que suas grandes telas negras-azuis nos induzem; as monotipias em sequência das séries NEBLINA convocam este apagamento da imagem através do enfraquecimento da potência de impressão, que se dá mecanicamente na repetição da tiragem da monotipia na mesma matriz.
Estas imagens, que remetem a paisagens etéreas, talvez nos façam lembrar instantaneamente de representações de paisagens japonesas ou da impressão atmosférica das pinturas de William Turner. Mas a sequência da diluição da primeira imagem à última, aliada ao deslocamento espacial que se constrói com cada “frame” deste processo, nos possibilita pensar a neblina como este apagamento físico e gradual – a perda da visão – cegando-nos a paisagem pouco a pouco. Um procedimento que pode ser relacionado quase inversamente aos Mergulhos de Sonia, que nos evocam encontrar a luz na escuridão.
Assim, o branco e o preto, como limites de um apagamento/revelação, perpassam novamente pela produção de Sonia Wysard, transformando então cada monotipia-paisagem num gesto construtivo de pensamento e de experimentação estética. Através deste procedimento inventado de ‘neblinar-se’, Sonia ainda mergulha e nos faz mergulhar, mas aqui, o mergulho é na neblina.